Luiz Marenco Luiz Marenco - Pela Cordeona do Tempo

Pela cordeona do tempo, que abre o fole e não fala
Muita moça da campanha bailou seus sonhos na sala
Muito romance fronteiro, desses que a noite ainda embala
Teve um floreio primeiro nos alvoroços de um pala

Quanta saudade perdida no toque dessa cordeona
Ensinou para o pago essa vaneira chorona
E muito foi a razão de uma noite redomona
De se entregar o coração pra os olhos d'alguma dona

Pela cordeona do tempo, nos ranchos beira de estrada
Alumbrados de candeeiro, clareando a copa e mais nada
Quanta promessa foi feita no escuro de uma ramada
Pra muita moça direita perder-se na madrugada

Quanto trago, por desgosto, já se golpeou no balcão
Ouvindo sem pôr sentido essa gaita de botão
Dos que procuram no trago uma verdade ou razão
Pra desfazer um estrago guardado no coração

Pela cordeona do tempo que abre o fole pra vida
Quanta alegria fez casa, quanto rincão deu guarida
Quanto gaúcho campeiro, campeando alguma investida
Abriu o peito troveiro, contando os causos da lida

Quanto adeus que ficou, quanto adeus que virá
Nas vozes de uma cordeona, há muito que se cantar
Porque há quem tome um gole mirando a luz de um olhar
Bem antes que feche o fole, depois que o baile acabar